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terça-feira

Lixo Extraordinário


Compostagem
Em cartaz nas principais telas de cinema do País o documentário “Lixo extraordinário”, gravado ao longo de dois anos, acompanha o projeto social do artista plástico Vik Muniz com catadores do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), considerado o maior da América Latina. No documentário, Muniz busca desmistificar o lixo, transformando-o em arte. Foi uma forma de comunicar e divulgar para o público uma nova maneira de encarar velhos paradigmas. Afinal, pode o lixo ser extraordinário?
Segundo pesquisas, a população brasileira gera 260 mil toneladas de lixo todos os dias, quantidade suficiente para encher o estádio do Maracanã. Apenas na cidade de São Paulo, são geradas 18 mil toneladas diariamente, o que equivale a 1,6 quilos por habitante.
É fato que a maior parte das coisas que jogamos fora e consideramos lixo, pode ser aproveitado e transformado. E o melhor de tudo isso, economizando os recursos naturais.
 Infelizmente, ainda não inventaram uma maneira da lata de lixo da nossa casa desintegrar matéria ou reciclar, instantaneamente, tudo o que é despejado nela! Seria maravilhoso, entretanto, no momento, ainda somos nós os protagonistas dessa história.
Mas como “convencer” as pessoas a separar, reciclar e destinar o lixo de maneira correta? Creio que os mecanismos usados atualmente estão equivocados. Mais uma vez menciono nesta coluna que não podemos usar os artifícios da culpa para fazer alguém mudar de hábito e de conduta. Fazer as pessoas acreditarem que apenas devem pensar nas próximas gerações, no futuro do planeta ou em serem “boazinhas” também não resolve. Os seres humanos querem ser felizes agora e não daqui a 50 anos. Sendo isso uma premissa, precisamos descobrir outros tipos de abordagem para que tenhamos resultados diferentes dos que temos hoje.
Uma maneira diferente de tratar a questão é pelo viés econômico. Existe uma fortuna no lixo. A reciclagem pode ter como mola propulsora a geração de recursos econômicos trazendo a reboque o aspecto ambiental.
Veja o exemplo das latinhas de alumínio. O Brasil reaproveita 98% das latinhas que produz, gerando R$ 382 milhões por ano, e essa prática já vem de muitos anos. Mas por que isso funciona? Será por que lá na década de 90 alguém pensou “Vamos fazer bem para o planeta e reciclar latinha?” Creio que não.  Naquela época, o conceito de sustentabilidade ainda nem existia. Então, quais foram as grandes alavancas que fizeram da reciclagem de alumínio um caso de sucesso?
- A latinha não é vista como lixo, e sim como dinheiro;
- A cadeia de negócio está bem estruturada em todo o processo e realmente funciona. Catadores, sociedade, empresas de reciclagem e indústria trabalham em conjunto. Pode ter certeza que você já bebeu refrigerante ou cerveja numa latinha reciclada;
- A motivação principal não é ser bonzinho ou fazer bem para o planeta, mas sim econômica e, em contrapartida, o meio ambiente agradece! Imagine a quantidade de recursos naturais utilizados, caso não fosse realizada a reciclagem das latinhas.
Se o processo de reciclagem de alumínio funciona tão bem e gera todo esse dinheiro, imagine se tivéssemos o mesmo reaproveitamento para todos os outros materiais, como plástico, papel, metal e vidro! É possível despertar alavancas de incentivo por meio do viés econômico e ainda assim, beneficiar o planeta.
Vivemos hoje no fugaz mundo do descarte e temos que pensar não em evitar a produção de resíduos, mas sim em como reaproveitá-los, gerando empregos, renda e um meio ambiente equilibrado.
Lixo gera dinheiro e os recursos podem ser transformados em escolas, hospitais, moradia, melhorias de vida para a população.  Não precisamos apenas arrumar um lugar para jogar o lixo ou incinerá-lo. Necessitamos criar redes e cadeias de negócio aonde tudo o que vai, volta transformado, sem termos que tirar novamente os já escassos recursos da natureza.
Por meio da comunicação podemos incentivar novas atitudes das empresas, do poder público e da sociedade a fim de buscar outros significados para o lixo, perceber o seu grande potencial social e econômico e, definitivamente, transformá-lo em extraordinário!

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